22.8.11
27.7.11
Quem merece os milagres?
14.10.10
A perfeição da felicidade
quando a ternura for a única regra da manhã,
acordarei entre os teus braços,
a tua pele será talvez demasiado bela e a luz
compreenderá a impossível compreensão do amor.
Um dia,
quando a chuva secar na memória,
quando o inverno for tão distante,
quando o frio responder devagar
com a voz arrastada de um velho,
estarei contigo e cantarão pássaros
no parapeito da nossa janela, sim,
cantarão pássaros, haverá flores,
mas nada disso será culpa minha,
porque eu acordarei nos teus braços
e não direi nem uma palavra,
nem o princípio de uma palavra,
para não estragar a perfeição da felicidade."
José Luís Peixoto
(n.d.a. - texto lido no meu casamento)
7.6.10
Vá para fora lá fora
31.3.10
30.3.10
Religião atómica
5.2.10
O ponteiro dos minutos do relógio da cozinha
27.7.09
14.6.09
As letras do seu nome
18.3.09
Reflexão com sumo
10.3.09
A caixa negra
Este é o paradigma premente para o século XXI.
23.9.08
4.8.08
Sol d'outrora
29.6.08
A rapariga das piruetas
Em cada pedaço de tempo que separava os pontos das diferentes equipas, ela dava uma pirueta. Em cada pedaço de tempo onde a vida abrandava, ela dava uma pirueta. Em cada pedaço de tempo desprovido de interesse, ela dava uma pirueta. Decorava o seu rosto com um rasgado sorriso e dava uma pirueta. Até nas fotografias para mais tarde recordar, ela estava a fazer uma pirueta. As suas piruetas eram leves, elegantes e repletas de energia positiva. Cada pirueta coloria com um pouco mais de alegria as expressões cinzentas que enchiam aquele velho ginásio. Não sei em mundo rodopiava aquela rapariga, mas em cada pirueta, em cada sorriso, em cada gesto inocente, perdia-me nas suas voltas. Gostava de saber qual era o seu segredo. Gostava de saber onde ia ela buscar o êxtase para contaminar todos aqueles que se perdiam nas suas voltas. A rapariga das piruetas não parou o dia inteiro. A rapariga das piruetas parecia feliz.
23.6.08
Uma Casa na Escuridão (excerto)
José Luis Peixoto
20.6.08
As notas das emoções
16.6.08
Melodia
24.2.08
12 palavras
20.2.08
Aprender
5.10.07
2.10.07
Metáfora do Destino
Ou alguma vez “bestializado”,
Pelas tramas a que me sujeitaram
Pelas armadilhas que me pregaram
Pelas veias que me cortaram,
Minhas artérias implodiram
E sem deixar rasto...
...o meu destino se traçou...
...Se Deus algum dia escreveu direito por linhas tortas, poderei eu dar-me ao luxo de cometer tal loucura, e torcer as linhas que Deus escreveu, para que lá eu possa escrever torto!? E sem me transformar numa alma pecaminosa, ditarei eu próprio o meu passado, construirei eu mesmo o meu presente...e desejarei que tu faças parte do meu futuro...
Arrancando as chagas a Jesus
E tocando doze badaladas num só sino,
Substituo Deus na cruz
E sou Senhor do meu destino.
Pelo exagero que aqui cometi
Peço desculpa e faço vénias.
Luzes psicadélicas!!!!!
Atritos de neon!!!
Olho o céu...junto as estrelas
Invoco Orion,
E, proponho-lhe um brinde,
Com um copo atestado de um qualquer licor...
Com um pico de amargura.
Olho-o nos olhos e desafio-o:
- Devolvo-te o teu ódio,
Se me devolveres a minha ternura.
...negócio ao qual sucumbiu e recusou.
Proponho-lhe então novo brinde,
Com um copo atestado de whisky do mais fino:
- Dar-te-ei a minha vida,
Se me devolveres o meu destino.
Espantado...brindou a mim
E, sem dúvida nem rancor,
Deu-me o que era meu
E assistiu sorridente ao meu fim..."
Guilherme Rebelo
27.9.07
Outro tempo
19.9.07
Os meus números pares
17.9.07
As pequenas coisas
17.6.07
A minha pequena nuvem branca
17.5.07
E depois
21.9.06
Direito à cólera (être en colère)
22.8.06
Pequenos sonhos
23.1.06
Uma planície e um castelo
20.11.05
Maria
Olhava e não te via, Maria.
Procurava mas não te sentia, Maria.
Ria, Maria.
Enchia a maré vazia, Maria.
Sonhava em agonia, Maria.
Ria, Maria.
Fingia, Maria.
Compûs uma melodia, Maria.
Dormi na ardentia, Maria.
Escondi a apatia, Maria.
Ria, Maria.
Fingia, Maria.
Morria, Maria.
Ganhei à ironia, Maria.
Achei a fantasia, Maria.
Perdi a melancolia, Maria.
Rio, Maria.
Não finjo, Maria.
Não morro, Maria.
Vivo contigo.
19.11.05
Pretexto
5.11.05
20.10.05
O meu cemitério
7.6.05
Canções
6.6.05
A esfera
9.5.05
É só mais um dia mau
25.4.05
A ironia etílica
13.3.05
O sorriso encondido
9.3.05
8.3.05
Poema de mim mesmo (excerto)
João Oliveira
A Normalização do Ser
4.2.05
A ilha das lembranças
28.1.05
O Remanescente
"Aquilo que era remanescente
Já não o é!
Finalizar o eminente.
O fim do que é!
Aqui não já somente, jaz nada de afável.
Ou palavras, mil palavras,
em tom amigável.
Aqui não jaz nada,
do que imagino,
que seja o imaginável!
Pela minha pessoa sou sucumbido.
Até despertar...e errar, e me prostituir,
para ganhar ânimo...
... sejamos falsos.
Que temos competências para tal.
Sejamos fúteis,
sejamos sofríveis
sejamos nós,
porque temos competências para tal!
Critiquem... critiquem,
o que remanesce.
Bocejem... bocejem,
que meu âmago adormece.
Do que era... já nada fica.
Do que é ... só me prejudica.
Deixei para trás tudo o que prevalece.
Embalem... embalem
Que só assim meu coração adormece..."
Guilherme Rebelo
Branco
23.1.05
Parar
Depois de aterrar numa existência demora sempre algum tempo até o corpo parar. Diria até que procuro inconscientemente a vertigem duma viagem que faça com que o corpo nunca assente. O corpo aguenta-se, o corpo foi bem feito. O corpo é o que temos para transportar a alma duma viagem para a outra. O corpo é o suporte fisico da alma. O corpo existe, a alma não. A matemática também não existe, mas funciona. A alma revela-se num raciocinio, numa forma desenhada, num gosto, numa interpretação do que é bonito. Quando o corpo pára, a alma pára. Quando a alma pára, ela cobre-se de nostalgias e de pensamentos. Eu não gosto de ficar parado, não gosto de pensar no pensar, não gosto de sorrir e de chorar ao mesmo tempo. Mas não sofro. O corpo não é alimentado por sorrisos, conversas ou impulsos consumistas. Nem por trabalho, sexo ou amor. O corpo é alimentado pelo combate à monotonia, pela motivação quase flagelante, pelo imprevisto. Tal como a água que me provoca inveja, o cansaço da alma acaba por vencer por entre os declives e pára o corpo. Permito-me extrapolar para um nível etéreo e fustigar a ponte entre o corpo e alma. Ir, como o poeta Jean Cocteau foi, e logo depois a minha alma se juntará. A separação do corpo e da alma poderá ser debatida e degolada pelas plateias filosoficas mas a sua realidade, seja de que natureza fôr, não é afectada pelas dúvidas da sua existência. Era como se soubessemos que o purgatório existe e andassem à milénios a fazer essa mesma pergunta. Assim se resolve o paradoxo: assumindo uma natureza fisica e outra natureza supra-fisica. Seria como um grande balde onde se enfiava o que é questionavel, o que não tem existência fisica, o que funciona. Então, é o corpo que não pode parar. O materialismo é uma tentação inevitavel que nasce a jusante da ponte. A simbiose é apenas aparente, destrinçavel e atraente.
16.6.04
Encontro
6.6.04
Pensar demais
24.4.04
Pensar no pensar
Parado, pensava no pensar. Via nas ideias e nas memórias um bailado de vivências a rodopiar sobre si mesmas. Via um caminho, uma saída e um reflexo na água. Procurava a ternura e a compreensão do tempo e o consolo do futuro, do espaço vazio. Vasculhava na emoção um sentido proibido esquecido. Perdia-me dentro de mim e mesmo assim tentava-me esconder da exasperante marcha dos ponteiros dum relogio qualquer. Parado, encontrava na mais pequena porção de tempo um significado, uma razão. Por vezes, perdia-me no escuro das coisas que não se explicam, ou das coisas que não teem explicação. Como um míudo de 5 anos, imaginava água em todos instantes, em todos os bocados de vida. Mesmo sem ver as ondas a dirigirem-se para a praia, mesmo sem as ouvir, mesmo sem as sentir, sabia o seu segredo. O vento, as pessoas, os sons, os dias, todos levam os seus segredos. Não se pode pensar no pensar sem antes parar. Não se pode pensar no pensar sem pensar nos segredos das coisas. Pensar até o pensar ser apenas uma palavra zangada com o seu significado, desligada de sentido, apenas a ser dois sons: pem-sar. Pem-sar. Pem-sar. No reflexo da minha imagem, esboçada nas paredes de tinta-de-areia, reparava que estava parado e como algo que não pudesse controlar, sorria e chorava. Não como se competissem entre si, mas como dois irmãos que brincam juntos. Ficava ao mesmo tempo feliz por estar a chorar e triste por estar a sorrir. As formas desenhadas num rosto que sorri e as gotas de água que caem dos olhos brincavam às escondidas, ao apanha e ao mata. Da janela do quarto do meu amigo, tentava mexer-me. Tentava embriagar-me na pressa do mundo. Eu não gostava de ficar parado, não gostava de pensar no pensar, não gostava de sorrir e de chorar ao mesmo tempo. Mas não sofria. Pensar no pensar retira-nos a capacidade de sofrer. Podemos repetir a palavra sofrer até a gastarmos, até ao ponto onde passa a ser um conceito, uma abstração, mas nunca deixamos de chorar. Pensar no pensar ensina-nos a acolher com um sorriso a água que cai dos olhos quando choramos, ensina-nos a suprimir o sofrimento e a transformá-lo em algo frio, desprovido de emoções, de vida, de sabor.
24.3.04
O tempo perdido
Da janela do quarto do meu amigo via as pessoas na rua a viverem. Algumas tinha o passo apressado como se a morte fosse a punição para o seu atraso. Algumas fingiam ter pressa. Cada um deles transportava a sua pequena historia, cada um transportava os seus horrores, os seus medos. Até as crianças que supostamente deveriam viver num mar imenso de ingenuidade pareciam apressadas. Todo o mundo parecia apressado. E eu, parado. Da janela do quarto do meu amigo via a luz dum domingo a ser interrompida por nuvens que viajavam tranquilas até lado nenhum. As folhas das árvores dançavam sem receios, os automoveis pareciam ter vida própria e pareciam ser eles a decidir o caminho a tomar. Visto de cima, da janela do quarto do meu amigo, via o tempo a passar. Passava nos pequenos pormenores, passava na vontade dos automóveis, passava nas gotas de músicas já muitas vezes admiradas. O tempo passava e eu estava parado. Por vezes, invejava a água da chuva ou outra qualquer água que corresse para o seu destino. Mesmo desprovida de vontades, a água sabia para onde ir, e ia. A água sempre me acolheu. Por vezes, deixava que a água me abraçasse e me levasse para sitios distantes, sitios onde afinal não estava parado. Mas, impotente para lutar contra o tempo, mais cedo ou mais tarde me abandonava e deixava-me de novo parado. A sensação de vida que bebo duma onda a quebrar, ou duns raios de sol timidos alaranjados a compor um pôr-do-sol, apenas pecam por serem finitos. Até a água parada numa neve fofinha, a água que vive no suor dum corpo que dança, a água que vive nas lagrimas falsas de pessoas falsas, até essa água me provoca inveja. Da janela do quarto do meu amigo, conseguia vislumbrar água em todos os instantes, em todos os bocados de vida.