23.1.06

Uma planície e um castelo

Lembro-me que quando era bem pequenino procurava o castelo da minha terra sentado na parte de trás do velho FIAT 124 azul escuro. Debruçava-me sobre as costas do banco de trás e ficava sempre a tentar localizar a imponente torre de menagem que se ergueria sobre qualquer planície. O meu pai desenhava o caminho pelos caminhos da nossa e das outras paisagens. Às vezes, as curvas para aqui e para ali ou umas árvores estúpidas bloqueavam a visão e eu perdia o castelo de vista. Às vezes não o via só por uns instantes, outras vezes ficava sem o ver durante uns minutos valentes mas depois aparecia sempre. Não era mais que um pontinho luminoso erguendo-se sobre qualquer planície, ao longe. Mas via-o sempre! Até da janela do quarto da minha avó noutra terra muito longe eu via o castelo. Naqueles tempos estava certo que não estava a imaginar o castelo, como dizia o meu irmão gozando comigo. Lembro-me que se tinha que olhar para o sítio certo e por isso ele não o conseguia ver. No regresso a casa, assim que fugíamos dos grandes prédios da terra da minha avó, procurava no vidro da frente pelo castelo, o que aborrecia o meu pai. Senta-te! Põe-te quieto! Era o que me dizia depois de ter recebido umas 20 inocentes joelhadas nas costas. Sabia que se apontasse os olhos para o sítio certo, veria o castelo que se ergueria sobre qualquer planicie, mesmo ao longe. Sabia que estava certo e a prova era que a certa altura o castelo começava a aumentar de tamanho e aparecia exactamente na direcção que eu apontava ao meu irmão da janela do quarto da minha avó. Estava certo! Os outros não viam o castelo porque não sabiam para onde olhar. Na terra onde estou agora, noutros reinos, a muitas paisagens de distância, também existe uma planície e um castelo. Esteja onde estiver, verei sempre um pontinho luminoso, desde que olhe na direcção certa. Os outros não vêem porque não sabem para onde olhar.

6 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

desde sempre o castelo de Beja tem sido fonte de inspiração de poetas,tal a sua beleza e imponência não fosse ele mandado edificar por um rei poeta, D.Dinis.Para aqueles que partilharam alguma vez a sua sombra,e admiraram as suas ameias ficaram pra sempre embuídos de pelo menos 3 estados de espírito. O levantar sempre a cabeça, seja quais forem as circunstâncias, o ter as vistas largas (ponderaçao) sobre todos os assuntos, e saber sempre, que ali há um farol que nos indica o caminho para o seio daquelas que nos amam e estimam.

8:28 da tarde  
Blogger Unknown disse...

As pessoas dizem normalmente de si mesmos só verem o que querem ver. Na verdade, dizem não querer o que não podem e não conseguem, porque se esqueceram de como faziam quando não fingiam permanentemente ser aquilo que não são.
Besos! Este foi claramente o teu melhor ensaio. :)

9:15 da tarde  
Blogger a miúda disse...

No reino onde estás é mais fácil ver a ponta do lápis...
;)
Como estás?
**s

12:08 da manhã  
Blogger Manandre disse...

Um retorno saudado. Penso ser o teu post mais pessoal de sempre, mas também o que mostra mais felicidade.

Abraço e boa sorte para a prova que se aproxima.

10:45 da tarde  
Blogger Miss Trouble disse...

O nosso castelo. Para mim sera sempre o meu castelo..e acredita que nao posso perde-lo de vista por muito tempo. Embora consiga ver outros castelos pq sei para onde olhar, só um me conforta ... beijocas

7:23 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

De todos os que fomos e o perdemos de vista, cedo ou tarde voltamos a reencontrá-lo . Como diz o ditado, bom filho á casa torna, o castelo e a sua torre é o imam que os puxa de volta para casa. O nosso porto, a nossa identidade...!

Um abraço grande do xerne...!

11:54 da manhã  

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