20.11.05

Maria

Olhava e não te via, Maria.
Procurava mas não te sentia, Maria.
Ria, Maria.

Enchia a maré vazia, Maria.
Sonhava em agonia, Maria.
Ria, Maria.
Fingia, Maria.

Compûs uma melodia, Maria.
Dormi na ardentia, Maria.
Escondi a apatia, Maria.
Ria, Maria.
Fingia, Maria.
Morria, Maria.

Ganhei à ironia, Maria.
Achei a fantasia, Maria.
Perdi a melancolia, Maria.
Rio, Maria.
Não finjo, Maria.
Não morro, Maria.
Vivo contigo.

19.11.05

Pretexto

Procurava um pretexto para escrever. Olhava em meu redor e tentava-me inspirar nos sons, nos cheiros e nas cores. Nada. Depois olhei para as pessoas e para as lembranças. Nada. Passado algum tempo a fustigar-me, percebi que só necessitava de uma coisa para escrever, a vontade. Lancei-me na vastidão das palavras e tricotei um texto. Desta vez não fiz no papel, como é meu hábito, fi-lo na minha velha máquina de escrever com teclado AZERTY. O som de cada frase, de cada passagem de linha embalava-me do mesmo modo como me deixo embalar por um fio de água livre. Escrevia como se escrevesse a mais bonita carta de amor. O som de cada frase, de cada passagem de linha difundia-se pelo meu quarto como se fossem um perfume de mulher ou de uma flôr. As letras que imprimia uma à uma transcendiam o papel e fintavam-me, olhavam-me nos olhos. Sentia-me acompanhado. Cada palavra que escrevia, cada frase, cada ideia, deixava de ser minha. A partir do momento em que as cravava no papel assumiam a sua liberdade e recusavam ser minhas servas. Agora era eu o seu escravo. O som de cada frase, de cada passagem de linha ecoava na minha cabeça mesmo quando não escrevia. Já não precisava de um pretexto.

5.11.05

Mais feliz que todas as coisas

Fechei os olhos. Estava mais feliz que todas as coisas.