16.6.04

Encontro

Num instante, num bocado de vida, as personagens dum teatro assincrono e imprevisivel, onde o mesmo acto não se repete duas vezes, dançam até à exaustão do corpo e da alma. Movimentam-se num plano que por vezes parece surreal, uma realidade alternativa. Cenas do passado, do presente e do futuro díluem-se umas nas outras, misturam-se e confundem-se. De repente, deixei de estar parado. As pessoas que via da janela do quarto do meu amigo já não pareciam ter pressa.

6.6.04

Pensar demais

O meu amigo dizia-me pensas demais. Talvez tivesse razão, ou não. O certo é que também o fazia ao dizer-me aquilo. Todas as pessoas que via pela janela também o faziam. Conseguia vê-lo através do manto cinzento que elas tanto faziam por camuflar com tons vivos, com a rapidez dos gestos tão reflectidos como os meus. Via as pessoas cheias de ideias e pensamentos como se cada um fosse o portador de mais um sofrimento, dum sorriso e de água que cai dos olhos ao mesmo tempo. Uma multidão de bailarinos acrobaticos que a todo o custo evitam pensar no pensar, ou admiti-lo. A diferença estava na pressa que cada um aparentava ter.