9.5.05

É só mais um dia mau

Nem todos os dias são bons. Nem todos os dias são recheados. Nem todos os dias trazem luz, sorrisos desenhados ou côr. Alguns dias têm dor. Ou até não têm nada. Não posso dizer que não são meus. Não os posso vender, trocar ou ignorar. Nem os posso afagar. Desde a virgem aurora dum penhasco à beira-mar até ao apagar dum qualquer candeeiro numa mesinha-de-cabeceira, a insustentável apaziguação parece incrivelmente distante e impossível. É um dos ciclos da trepida natureza humana. A aceitação, a depleção e a rejeição dum dia mau. Ou ao contrário. Nem todos os dias são bons e nem os posso afagar. Numa palavra duma canção ou numa prosa poética alheia encontro um abrigo despido. Num tempo perdido, numa lembrança tórpida, numa gota de água translucida, o minguar da crucificação. O auto-perdoar. A atitude mutada. Amanhã volto a voar, a existir e a refulgir. É só mais um dia mau.