13.3.05

O sorriso encondido

No outro dia cruzei-me com a sorte. Cruzei-me com pouco mais de dez pedaços de tempo, de inocência e de criança. Por entre as frestas dum cabelo negro, num rosto interrompido por raios de sol apagados, numa ninfa de talvez uns 18 anos, ví um sorriso escondido. Ela caminhava em cima da pressa do mundo e ela escondia o seu sorriso. Ela escondia-o das pessoas da rua e dos olhos que não conhecia. Como um reflexo primario, sorrí também. Invejei-a. Ela estava sozinha e sorria. Não sei se ela continuou a sorrir mas eu continuei por mais alguns pedaços de tempo. Tentava hipnotisar outro peão e outro e outro mas não consegui. O meu sorriso diluia-se nos passos que dava e nos olhos que fugiam. Cansado, o meu sorriso escondeu-se, tal como o dela. Adormecido, o meu sorriso abrigou-se dentro de mim e deambulou sem destino nas minhas memórias.

9.3.05

Filosofia extrema

Serei mais complicado ou mais simples?

8.3.05

Poema de mim mesmo (excerto)

"Às vezes chove lá fora. Imagino que o oiço. O meu rosto, ferido de sono, aberto. De quantas formas diferentes terei adormecido? Quem poderia ter evitado deitar-se sobre uma ferida recentemente aberta? Correm cavalos lá fora, e cães e pássaros. Em círculos, como os radares. E eu pertencia a mim mesmo, habitava o meu corpo. Suportava-o. Misturavamo-nos como dois amantes, ele o rio, eu o mar, ele a chama, eu o lume, em combustão espontânea, deitados para dormir, eu à sua espera, ele reconquistando forças, eu conquistando países, percorrendo planícies e desertos, plantando padrões em sonhos oceânicos."

João Oliveira

A Normalização do Ser

Refletindo sobre as regras do jogo, cada vez mais me apercebo da importância da normalização. Assumindo uma curva sinusoidal com diferentes amplitudes para cada peão, a alma e o corpo são fustigados por sucessivas rajadas de pseudo-racionalidade. Nessa curva está projectada toda a água que cai dos olhos e todos os reflexos que vivem num sorriso. Nessa curva sentimos a alma. Nessa curva sentimos o corpo. É então que somos tentados pelo atalho da normalização trilhado pelas marcas da experiência. Afagado e amortecido. Calmo e adormecido. A equalização, a diferenciação e a Normalização do ser. Tudo pelas regras.