27.9.07

Outro tempo

O passado é mimado e recortado. O futuro é inevitavelmente sonhado. O presente deve ser afagado.

19.9.07

Os meus números pares

0 2 4 6 8 ... foi assim comecei uma das maiores aventuras da minha vida. Abria o estojo, tirava as canetas azul, verde e vermelho. Abria o caderno e lá me embriagava nos meus números pares. Lembro-me que tinha escolhido os números pares apenas porque era demasiado impaciente para esperar pela exasperante marcha dos números inteiros. Achava-os muito lentos, os números pares eram melhores, avançavam ao dobro da velocidade. Respeitava meticulosamente o quadriculado do caderno. Cada algarismo só podia ocupar uma casinha e o número seguinte ficava na coluna abaixo. Cada coluna estava espaçada de uma casinha da coluna ao lado. Haviam vários aliciantes. Como escrevia a caneta não me podia enganar. Quando isso acontecia, abria os agrafos que compunham o caderno, atirava a folha inteira para o lixo e recomeçava. Quando já tinha passado do meio do caderno, não tinha alternativa, não me podia enganar. Quando chegava às centenas, as casinhas onde escrevia estes números perfeitos tinham direito a um contorno vermelho. Os milhares, os meus preferidos, eram escritos a verde e as suas casinhas eram contempladas com um bonito contorno azul. No dia em que cheguei aos 10000 tive um problema. Não sabia como destacá-lo. Nesse dia decidi ir vasculhar a gaveta do escritório do meu pai à procura de uma solução. Finalmente, roubei-lhe a caneta amarela fluorescente. Era o mínimo que podia fazer por esse marco histórico. Claro que continuava a jogar à bola, a andar de skate ou fazer os meus deveres. Mas sempre que podia, abria o caderno e lá me embriagava nos meus números pares. Como os cadernos tinham exactamente o mesmo número de quadriculas por página, comecei a reparar nos padrões. Sabia sempre em que número ia acabar essa página ou quantas páginas me faltavam para poder escrever um número a verde e contorná-lo a azul. Quantos mais padrões descobria, mais vontade tinha de continuar e de descobrir outros. Essa era a minha motivação. Sabia quais eram o números que apareceriam no final de cada coluna. Sabia de quantas linhas diferiam as centenas em colunas diferentes. Sabia quando ia chegar a excepção onde não estaria nenhuma casa contornada a vermelho numa coluna. Apesar de já ter aprendido na escola que os números eram infinitos, não tencionava parar. Abria o caderno e lá me embriagava nos meus números pares. Um dia parei. Tinha preenchido 2 cadernos A5 e o terceiro ficou a meio. Afinal, os meus números pares eram finitos. Eram 56300.

17.9.07

As pequenas coisas

Eram os pequenos momentos, as pequenas decisões, as pequenas alegrias e as pequenas empatias. Eram as pequenas torturas, os pequenos diálogos, os pequenos prazeres e os pequenos afazeres. Eram os pequenos azares, os pequenos achados, os pequenos petiscos e os pequenos rabiscos. Eram as pequenas ilhas, as pequenas viagens, as pequenas maldades e as saudades.