4.8.08

Sol d'outrora

Sempre que saía da minha terra reparava que existia um sol amarelo bem no alto do céu. Quando ia para ao pé da praia e especialmente ao fim da tarde, o sol ficava maior e sarapintado de cor-de-laranja. Já na terra da minha avó ele parecia-me mais pequeno e mais sujo, como se o amarelo radioso passasse a amarelo sujo. Para mim fazia todo o sentido haver sois diferentes. Isto porque as pessoas das outras terras falavam de maneiras diferentes, guiavam carros diferentes, brincavam em jardins diferentes e jogavam outros jogos que eu não conhecia. Claro que punha a hipótese de haver um só sol mas cada vez que o olhava ele fazia-me doer os olhos. Não podia memorizar as suas formas, ele defendia-se como se se sentisse atacado. Para mim fazia todo o sentido haver sois diferentes. Não conseguia imaginar uma forma de responder à minha questão. Mesmo que o seguisse durante o caminho até à minha casa havia sempre um ou outro obstáculo que se interpunha entre mim e o sol que estava a seguir. Por isso nunca tinha a certeza absoluta. Até quando fui de avião para a ilha da minha mãe, quando voávamos por cima das nuvens, o sol era diferente, era ainda mais brilhante. Ainda por cima ele nascia e morria no mar e a horas diferentes daquelas que eu estava habituado. Para mim fazia todo o sentido haver sois diferentes. Um dia reparei que a sua irmã, a lua, também se erguia no topo do céu de todas as terras apesar de às vezes não aparecer. A lua só aparecia quando lhe apetecia. Mesmo assim, sabendo que era caprichosa, decidi segui-la do parque de campismo, noutra terra, até à minha terra. Nesse dia, quando chegámos a casa, estava triste. Tinha encontrado a resposta. Só havia uma lua. Só havia um sol. Para mim fazia todo o sentido haver sois diferentes. Estava errado.