7.6.05

Canções

Decidi ir dar um passeio de bicicleta. Nas voltas que dei perdi-me no espaço e no tempo. Estava acompanhado pela música que ouvia nos meus auscutadores. Todos os pedaços de tempo corriam paralelos ao passar das canções. Perdi-me dos outros e perdi-me de mim mesmo. E no entanto ia sozinho. Perdi-me na identidade. Cada árvore que ultrapassava, cada sucalco do caminho de terra que fintava distraia-me. Cada seta que via apontava para uma prisão diferente, para uma fronteira, para um sítio. Continuei a pedalar. Não procurava nada. Apenas me queria fundir com o tom verde da calma que me rodeava. Os pedaços de tempo continuavam a correr paralelos ao passar das canções. Acabei por chegar a uma praia. Na água estavam umas crianças a brincar e uns adultos nadavam quilometros a fio. Como era tarde, o sol escorregava na água e pintava uma paisagem carregada de amarelos torrados. De repente, parei a música mas os pedaços de tempo continuaram a correr paralelos ao passar das canções. Desta vez, ouvia canções nas cores, nos cheiros e na paisagem carregada de amarelos torrados. As canções eram cada vez mais belas, mais simples e mais vivas. Imaginava nas formas que se formavam nos reflexos da água canções. Comparava as pessoas que vivem dentro de mim com canções. Umas mais tristes, outras mais alegres. Já não estava sozinho. Tinha as canções. Agora eram as canções que corriam paralelas aos pedaços de tempo.

6.6.05

A esfera

O lado de dentro e o lado de fora. O movimento e o sedimento. O avarento e o tormento. O invento. O cinzento e o fermento. O movimento e o vento. O sedimento e num momento, o cimento.